Em julho de 1979, chegava às ruas brasileiras o primeiro Fiat 147 a etanol. Tratava-se de um grande marco no mercado automobilístico, uma vez que a empresa foi a pioneira no mundo na produção em série do motor a etanol.
A presença de álcool no tanque fazia com que o escape expelisse um cheiro que lembrava ao de uma bebida aguardente, por isso o modelo logo ganhou o apelido de “‘Cachacinha”. O veículo simbolizou um marco importante na marcha na direção do desenvolvimento de tecnologias em prol de veículos mais eficientes e menos poluentes. O período era propício. O país vivia a era do Pró-Álcool, um programa nacional para combater a crise do petróleo.
Para celebrar o aniversário de quatro décadas, a primeira unidade do 147 a etanol acelerou na pista de testes da fábrica de Betim (MG), exatamente como há 40 anos e como se tivesse acabado de sair da linha de produção.
O exemplar, que na época foi vendido para o Ministério da Fazenda, de Brasília, integra nos dias de hoje o acervo de clássicos da Fiat e está praticamente original, sem restauração.
“É emocionante ver esse carro de perto não só pela importância de ser realmente o primeiro Fiat 147 a etanol, mas também por estar funcionando perfeitamente com todos os elementos de época originais, como partida a frio e afogador, além de preservar a tampa vermelha do motor e a pintura original, com direito alguns toques de batida de porta”, disse Robson Cotta, gerente de Engenharia Experimental da Fiat Chrysler Automóveis (FCA).
Na fábrica, o carro “quarentão” passou por manutenção de alguns componentes. Equipado com motor 1.3 a álcool de 62 cv e câmbio manual de quatro marchas, o veículo recebeu novos pneus, o tanque e a bomba de combustível, filtros, velas e os fluidos de freio e radiador. A carroceria passou por polimento, o carburador por limpeza e o ponto do motor foi acertado.
“O primeiro veículo 0Km que eu comprei foi um Fiat 147 a etanol. Portanto, ver em 2019 esse exemplar do primeiro carro a etanol traz uma lembrança muito boa tanto do lado pessoal como do profissional, pelos desafios enfrentados para desenvolver e fazer os automóveis a etanol darem certo no Brasil. Não só deu certo como se provou ser uma tecnologia vencedora”, disse Cotta, que atua na Fiat desde o início da década de 1980.
De olho no futuro
Os 40 anos do 147 com motor a etanol representam um marco importante para a engenharia automotiva brasileira, que em 1979 engatou uma marcha na direção do desenvolvimento de tecnologias em prol de veículos mais eficientes e menos poluentes.
Por causa do então novo combustível derivado da cana-de-açúcar, diversos componentes dos automóveis precisaram mudar de forma rápida e constante, o que motivou os fabricantes a desenvolver novas soluções e vislumbrar outras fontes de alimentação para os carros.
“Se analisarmos os dias atuais, em que já nos acostumamos com motores flexíveis, biocombustíveis e até com alternativas híbridas e elétricas, veremos que o passo decisivo para esse cenário foi dado lá atrás com o primeiro carro a álcool“, afirmou o engenheiro Everton Lopes, da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade).
O etanol continua sendo um combustível de enorme importância para o mercado brasileiro, que almeja com o Rota 2030 (programa que define regras para a fabricação dos automóveis produzidos e comercializados no Brasil nos próximos 15 anos) aprimorar ainda mais as metas de eficiência energética e redução dos poluentes. “O etanol degrada menos o veículo, além da contribuição significativa para a redução do efeito estufa. Não à toa o Rota 2030 vai beneficiar as marcas que conseguirem aumentar a eficiência de seus carros com álcool [melhor desempenho e menor consumo], algo que será vantajoso para o meio ambiente e para os consumidores”, destacou Everton Lopes.